Vida de músico

Postado por Tempero Cultural

Por Carlos Giannoni
Que lugar ocupa a música erudita na vida do brasileiro?
Segundo Victor Botene de Oliveira, Violista da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, a música erudita está cada vez mais acessível, as orquestras não se apresentam apenas em salas de concertos e teatros, hoje, favelas, prisões, praças e até praias servem de palco para grandes concertos, popularizando a música erudita.

O músico iniciou seus estudos aos dez anos de idade tocando piano clássico, com seu irmão que já era pianista.

Através do projeto Guri, idealizado pela Secretaria Estadual da Cultura, iniciou seus estudos na viola clássica, sob influência de seus pais, apreciadores de música erudita. Projeto esse de incumbência do Estado, que é responsável por financiar as orquestras e a música erudita.

Tinha a intenção de estudar violino ressaltou o músico, mas as vagas estavam esgotadas. Mas identificou-se com a viola e não quis mais mudar.

A formação musical como instrumento de educação foi seu foco no início de seus estudos. Mas em uma reunião de alguns pólos do projeto Guri, formando uma Orquestra Sinfônica e Coral, para um concerto na Sala São Paulo junto ao cantor e compositor Toquinho, sentiu-se empolgado e naquele momento decidiu ser músico profissional.

A dedicação aos estudos é imprescindível diz o músico. Quatro a cinco horas diárias era o tempo que se dedicava ao estudo da viola.
Aos 14 anos deixa o projeto Guri e passa a ter aulas particulares no Palacete Levy em Limeira.
Em 1999 alguns músicos idealizaram a Orquestra de Câmara, onde passou a ter aulas regulares de prática em orquestra.

Alguns aspectos da música erudita ainda impedem que seu estudo chegue a todas as camadas da população. Apesar dos projetos oferecerem os instrumentos aos alunos, ele precisa ter o próprio para aprimorar seus estudos, instrumento esse que não sai por menos de 300 reais, ressalta Victor Botene

Após algum tempo tocando em um violino com cordas de viola, no ano de 2000 consegue comprar sua primeira viola.
Para quem almeja seguir carreira profissional de músico clássico, o interior não oferece grandes oportunidades de avanço nos estudos.

Sentindo essa deficiência, aos 15 anos ingressa na ULM (Universidade Livre de Música – Tom Jobim) em São Paulo. Lá pode ter aulas com músicos de renome e alto nível. Mas os custos desses estudos são altos, sendo um grande empecilho na carreira de um músico do interior que quer se tornar profissional.

Abriu mão das aulas na ULM, mas manteve aulas mensais e particulares com professores dessa instituição. Aulas essas que não saem barato, algo em torno de 100 reais a hora aula, mas claro, isso varia de professor para professor, podendo se cobrar valores muito mais elevados.
Outras oportunidades surgiram, ainda no ano de 2000, recebeu o convite para fazer parte da Orquestra Filarmônica de Rio Claro – SP.

Com seu rápido desenvolvimento, no ano de 2002 aos 16 anos, assume a cadeira de primeira viola da Orquestra de Câmara de Limeira – SP, e logo em seguida o convite para ser professor da Escola Livre de Música da mesma cidade.

Tanto esforço e dedicação trouxeram reconhecimento. Após um concurso entre escolas estaduais que foi televisionado, a diretoria do projeto Guri se interessou e o convidou para uma série de apresentações com o projeto Guri de Osasco – SP.

O Violista fala da importância do músico ser visto, da necessidade de mostrar seu trabalho. Fez isso através de cursos e festivais, como o famoso Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão e o Festival de Música de Santa Catarina.


Através dessas experiências, teve aula com diversos professores conceituados e tocou com músicos de todo o mundo.
Mas nem tudo são flores. O músico conta que mesmo com grandes oportunidades surgindo, sempre foi muito difícil receber uma recompensa financeira adequada, tendo que paralelamente a esses estudos eruditos, atuar como músico em bandas e tocar em casamentos e recepções.

Apesar da popularização da música erudita, os músicos enfrentam grandes dificuldades em suas carreiras, como a falta de oportunidades de emprego, bons professores, poucas orquestras profissionais que oferecem salários consideráveis e o alto nível que elas exigem de seus músicos, onde nenhum músico com formação nacional consegue ingressar, sendo necessários estudos no exterior, para que possam obter boas colocações no Brasil.

O que preocupa hoje o Violista Victor Botene é o alto preço dos instrumentos e sua manutenção, que ultrapassa 100 mil reais.
Em 2007 recebeu o convite para realizar o concurso da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Era apenas uma vaga, que a conquistou e onde atua até hoje.

Após tocar nas Orquestras Sinfônicas de Limeira, Rio Claro, Americana, Piracicaba e Orquestra Jovem do Estado de São Paulo e ter tocado com os maiores nomes da MPB como Toquinho, Leila Pinheiro, Zizi Possi e Roberto Carlos. Victor Botene pretende através de aulas particulares, cursos e festivais, aprimorar cada vez mais sua técnica na viola, com a intenção de obter boas colocações nas melhores orquestras do país e até do exterior.

Essa é a realidade da música erudita para você que deseja ser músico profissional ou apenas tinha curiosidade sobre esse mundo da música clássica.

O longo caminho a se trilhar, as dificuldades, as recompensas, o esforço e o reconhecimento desses profissionais. Para quando você ver novamente uma orquestra tocando, poder entender que lugar a música erudita ocupa e o que ela representa na vida desses músicos.

Fonte: Tempero Cultural

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