Paixão transformada em carro

Postado por Tempero Cultural

Por Juan Franscesco Piva

Os amantes de Fuscas e demais veículos de motor refrigerado a ar se reúnem todas as semanas em Americana para manter viva a história destes carros e, principalmente, fortalecer a amizade dos integrantes do Clube do Fusca de Americana Nossa Família Volkswagen (CFA). Os encontros acontecem às segundas-feiras, a partir das 19h30, e todo segundo domingo de cada mês às 9h, no posto Texaco da Avenida Nossa Senhora de Fátima.


Membro do clube, o inspetor de qualidade Douglas André de Oliveira, 28, revela que no primeiro encontro que participou com o grupo, parecia já estar lá há tempo. "Foi muito bom, fiz amizades verdadeiras e sinceras. Hoje em dia é apenas uma desculpa ir aos encontros do CFA, o mais importante é rever os amigos, pois não é um clube fechado só para as pessoas que têm Fusca, mas sim a todos os admiradores do ‘besouro’, é também um local de fazermos novas amizades", lembra Oliveira.

Ele ainda relata que o ambiente é tão agradável, que todos levam as esposas, namoradas, filhos, e em alguns finais de semana, são marcados passeios, festas, entre outras atividades de lazer, deixando o carro como segundo plano e elevando a importância da integração dos membros do clube - fundado em 22 de junho de 2005.

O Fusca nasceu na Alemanha, em 1935, com o nome de Volkswagen, que significa em alemão ‘carro do povo’. A última versão foi produzida em 2003, no México. O carro foi encomendado por Adolf Hitler ao projetista Ferdinand Porsche, antes do período das guerras.

O ditador idealizava um veículo com preço acessível, econômico, de fácil manutenção e grande durabilidade, resultando o que mais tarde seria o carro mais vendido do mundo, com mais de 21 milhões de unidades comercializadas.

A paixão pelo carro é sustentada pelo seu charme, confiabilidade mecânica, valor de mercado (que não depreciou com o passar dos anos) ou um dado momento feliz na vida de seu dono. O biólogo e presidente do clube, Heverson Knauer de Campos, mais conhecido como Teco, 48, disse que gosta do carro desde a infância.

O amor ficou ainda maior depois que assistiu ao filme ‘Se Meu Fusca Falasse’, quando simpatizou com Herbie, o Fusca 53. Atualmente, Teco apelidou um de seus três modelos com o mesmo nome, já que o carro está caracterizado como o do filme, "preservando as mesmas rugas da época", afirma.

Com um câmbio seco de quatro marchas, motor refrigerado a ar e sistema elétrico de seis volts, o Fusca já revolucionava para sua época. Teco acredita que não terá um carro que irá superar a versatilidade mecânica do Fusca. Isto porque, o carro já foi transformado em quase tudo, desde aviões (modelos experimentais), motos (a Amazonas 1600 do Brasil), barcos (pequenos barcos de madeira com um motor boxer - motor com cilindros opostos - adaptado, ou mesmo o carro inteiro impermeabilizado), e até mesmo bombas d’água ou geradores. "É um carro que dificilmente vai te deixar na mão", diz o presidente do CFA.

Teco lembra que o Fusca é o único veículo do mundo que tem um dia nacional (20 de janeiro) e um mundial (22 de junho). No Brasil, o automóvel foi fabricado oficialmente a partir de 1959, sendo comercializadas mais de três milhões de unidades. A produção foi interrompida em 1986.

Nessa época, Oliveira tinha cinco anos. Ele relata ter chorado muito quando soube que a Volkswagen não iria mais fabricar o modelo, pois queria ter um quando crescesse. Em 1993, o então presidente Itamar Franco, relançou o Fusca, objetivando um carro popular. Até 1996, quando saiu novamente de produção, foram vendidos cerca de 40 mil veículos.

"O Fusca Itamar não emplacou por causa do preço, em torno de sete mil na época, e também porque as outras empresas automobilísticas entraram forte no mercado, lançando carros mais confortáveis", explica Teco.


O New Beetle foi lançado com o título de novo Fusca. Embora fabricado com tecnologia mais avançada, os amantes do carro do povo não aderiram ao possível substituto, que está longe de fazer o mesmo sucesso do modelo antigo. "Em termos de popularidade e afinidade será difícil superar o Fusca. Digamos que o Beetle seja um brinquedo de gente grande, pelo seu valor bastante elevado", destaca Teco.

Patrimônio histórico

"Você tem uma história, não só um carro", afirma o tecnólogo em saneamento ambiental e membro do CFA, Marcel Secomandi, 26, referindo-se ao carro que possui. "Minha avó passou a maior aventura da vida dela quando fomos a um evento no autódromo de Interlagos, quanto mais acelerava mais a vovó gostava", lembra Secomandi.

Também membro do CFA, o estudante Thiago Argentin, 21, possui um Fusca original com 136 mil quilômetros rodados, comprado em 29 de abril de 1976, no valor de 34.961 cruzeiros. Ele é o terceiro dono e afirma que não lava mais o carro, pois a cada vez que fazia isso caía um pedaço de tinta da lataria. "Agora só limpo com lustra móveis", diz Argentin.

Para provar que a paixão pelo carro não se restringe somente aos machões, a professora e esposa de Teco, Tereza Isabel Badan Palhares de Campos, 47, afirma que as mulheres e as crianças preferem olhar para um Fusca a outro carro.

A esposa ainda revela as manias de seu marido em relação ao veículo: "Ele não deixa o carro na rua, mantém sempre coberto, não gosta de dirigir na terra, ninguém pode entrar com os pés sujos e me proíbe de limpar a capa", revela aos risos. Ela ainda relata que ninguém pode dirigir o Herbie e que Teco coleciona miniaturas de Fuscas - a primeira é de 1967.


Para Teco é o companheiro, para Argentin é tudo, para Oliveira é um filho, para Secomandi é uma paixão; assim eles resumem o Fusca em uma palavra. "Não venda", "aproveita o que tem", foram algumas das dicas dadas pelos membros do clube em relação ao carro do povo.

Quem tiver interesse em participar dos encontros do clube basta atender a alguns requisitos: não é permitido utilizar o som com o volume elevado, não pode ‘sair cantando pneu’ e é inadmissível menosprezar outros membros e seus carros. A única mensalidade que será cobrada do novo integrante é a colaboração na manutenção do ambiente familiar que o CFA preserva desde a sua fundação.


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Fonte: Tempero Cultural

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